segunda-feira, 20 de abril de 2020

Pandemia e Saberes Tradicionais em África: poderes e limites



Há todo um mundo de medicina tradicional em África que dialoga com os sistemas mágico-religiosos. A emergência de igrejas neopentecostais trouxe diversos fatores de deslegitimação, demonização e apropriação destas práticas. Na conjuntura da pandemia do COVID 19 todas estas questões merecem estudo e análise. Conheça o posicionamento da Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique no enfrentamento de práticas irresponsáveis de cura.






MOÇAMBIQUE
Covid-19: Médicos tradicionais repudiam "falsos curandeiros" em Moçambique

Em Nampula, a Associação dos Médicos Tradicionais promete tomar medidas contra todos os associados que se envolvam no suposto tratamento da Covid-19 e incentiva a denúncia de fraudes.
A Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique (AMETRAMO) está a pedir aos seus membros em Nampula que se distanciem do oportunismo do suposto diagnóstico e tratamento do coronavírus.

Segundo a comunidade médica internacional, não há cura para a Covid-19. E o presidente da AMETRAMO na província de Nampula, Evaristo Gonçalves, sublinha que também não existem, até ao momento, ao nível da medicina tradicional em Moçambique, raízes que curem a doença causada pelo novo coronavírus.

"Não temos nenhuma informação que diz que os médicos tradicionais podem fazer tratamento de cura. Evitemos fazer publicidades sobre a cura do vírus. Isso não pode acontecer", esclarece.

Em Moçambique, segundo os dados mais recentes das autoridades de saúde, há 28 casos positivos da doença confirmados.
Curandeiros devem sensibilizar

A nível da província nortenha de Nampula, a mais populosa de país, existem mais de 7,7 mil praticantes da medicina tradicional filiados à AMETRAMO. Evaristo Gonçalves pede que estes curandeiros se envolvam na sensibilização para travar a propagação da pandemia.

O presidente da AMETRAMO aconselha os curandeiros a incentivar os doentes com sintomas a dirigirem-se aos "postos de saúde, porque é lá onde se pode averiguar esse tipo de doença", exortou.

Sem avançar detalhes, Gonçalves garante que haverá duras medidas contra curandeiros desonestos, que se aproveitem da pandemia para ganhar dinheiro em nome da cura. "Se for um membro da AMETRAMO, nós vamos tomar medidas para desencorajar. Ninguém pode mentir, dizendo que trata o coronavírus".

Em nome da AMETRAMO, o curandeiro apela ainda aos secretários dos bairros para poder combater publicidades enganosas e continuar a seguir os apelos do Governo.

Em Nampula, tal como fez conhecer o presidente provincial da Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique, todas as atividades dos curandeiros estão temporariamente suspensas à luz do cumprimento do estado de emergência em vigor no país desde o dia 1 de abril corrente até no próximo dia 30.







Covid-19: Moçambique prevê 20 milhões de infecções no “pior cenário”
20 de Abril, 2020

O Governo moçambicano prevê que, no pior cenário, cerca de 20 milhões de pessoas possam ser infectadas pelo novo coronavírus nos próximos seis meses.
"Este seria o nosso pior cenário", declarou Eduardo Samo Gudo, diretor-geral Adjunto do Instituto Nacional de Saúde (INS), falando em conferência de imprensa de actualização dos dados sobre a Covid-19 em Moçambique.

O número foi avançado hoje pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), que reuniu o seu conselho coordenador em Maputo para analisar a situação de emergência que o país atravessa.

O director-geral adjunto do Instituto Nacional de Saúde frisou que as autoridades "tudo estão" a fazer para evitar que o país chegue a este nível, mas a planificação deve ser feita tendo em conta dados do "pior cenário".

"O sistema de saúde tem de estar preparado para o pior cenário. No entanto, medidas estão em curso para evitar este cenário e Moçambique é um exemplo em termos de antecipação das medidas de prevenção", declarou.

O relatório do INGC, a ser apresentado ainda ao Conselho de Ministros, indica que, para o pior cenário, há necessidade de um valor total de 34 mil milhões de meticais (464 milhões de euros).

"Este orçamento será revisto logo após a orçamentação das actividades dos sectores do género, abastecimento de águas e indústria e comércio", lê-se no documento.

O INGC recomenda a mobilização de recursos adicionais para conter o alastramento da pandemia, além da criação de hospitais de campanha nas periferias dos principais centros urbanos.

Com um total de 39 casos oficiais, Moçambique vive em estado de emergência durante todo o mês de Abril, com escolas, espaços de diversão e lazer encerrados, proibição de todo o tipo de eventos e de aglomerações, além da suspensão da emissão de vistos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário