Há todo um mundo de medicina tradicional em África que dialoga com os sistemas mágico-religiosos. A emergência de igrejas neopentecostais trouxe diversos fatores de deslegitimação, demonização e apropriação destas práticas. Na conjuntura da pandemia do COVID 19 todas estas questões merecem estudo e análise. Conheça o posicionamento da Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique no enfrentamento de práticas irresponsáveis de cura.
MOÇAMBIQUE
Covid-19: Médicos tradicionais repudiam "falsos
curandeiros" em Moçambique
Em Nampula, a Associação dos Médicos Tradicionais promete
tomar medidas contra todos os associados que se envolvam no suposto tratamento
da Covid-19 e incentiva a denúncia de fraudes.
A Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique
(AMETRAMO) está a pedir aos seus membros em Nampula que se distanciem do
oportunismo do suposto diagnóstico e tratamento do coronavírus.
Segundo a comunidade médica internacional, não há cura para
a Covid-19. E o presidente da AMETRAMO na província de Nampula, Evaristo
Gonçalves, sublinha que também não existem, até ao momento, ao nível da
medicina tradicional em Moçambique, raízes que curem a doença causada pelo novo
coronavírus.
"Não temos nenhuma informação que diz que os médicos tradicionais
podem fazer tratamento de cura. Evitemos fazer publicidades sobre a cura do
vírus. Isso não pode acontecer", esclarece.
Em Moçambique, segundo os dados mais recentes das
autoridades de saúde, há 28 casos positivos da doença confirmados.
Curandeiros devem sensibilizar
A nível da província nortenha de Nampula, a mais populosa de
país, existem mais de 7,7 mil praticantes da medicina tradicional filiados à
AMETRAMO. Evaristo Gonçalves pede que estes curandeiros se envolvam na
sensibilização para travar a propagação da pandemia.
O presidente da AMETRAMO aconselha os curandeiros a
incentivar os doentes com sintomas a dirigirem-se aos "postos de saúde,
porque é lá onde se pode averiguar esse tipo de doença", exortou.
Sem avançar detalhes, Gonçalves garante que haverá duras
medidas contra curandeiros desonestos, que se aproveitem da pandemia para
ganhar dinheiro em nome da cura. "Se for um membro da AMETRAMO, nós vamos
tomar medidas para desencorajar. Ninguém pode mentir, dizendo que trata o coronavírus".
Em nome da AMETRAMO, o curandeiro apela ainda aos
secretários dos bairros para poder combater publicidades enganosas e continuar
a seguir os apelos do Governo.
Em Nampula, tal como fez conhecer o presidente provincial da
Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique, todas as atividades dos
curandeiros estão temporariamente suspensas à luz do cumprimento do estado de
emergência em vigor no país desde o dia 1 de abril corrente até no próximo dia
30.
Covid-19: Moçambique prevê 20 milhões de infecções no “pior
cenário”
20 de Abril, 2020
O Governo moçambicano prevê que, no pior cenário, cerca de
20 milhões de pessoas possam ser infectadas pelo novo coronavírus nos próximos
seis meses.
"Este seria o nosso pior cenário", declarou
Eduardo Samo Gudo, diretor-geral Adjunto do Instituto Nacional de Saúde (INS),
falando em conferência de imprensa de actualização dos dados sobre a Covid-19
em Moçambique.
O número foi avançado hoje pelo Instituto Nacional de Gestão
de Calamidades (INGC), que reuniu o seu conselho coordenador em Maputo para
analisar a situação de emergência que o país atravessa.
O director-geral adjunto do Instituto Nacional de Saúde
frisou que as autoridades "tudo estão" a fazer para evitar que o país
chegue a este nível, mas a planificação deve ser feita tendo em conta dados do
"pior cenário".
"O sistema de saúde tem de estar preparado para o pior
cenário. No entanto, medidas estão em curso para evitar este cenário e
Moçambique é um exemplo em termos de antecipação das medidas de
prevenção", declarou.
O relatório do INGC, a ser apresentado ainda ao Conselho de
Ministros, indica que, para o pior cenário, há necessidade de um valor total de
34 mil milhões de meticais (464 milhões de euros).
"Este orçamento será revisto logo após a orçamentação
das actividades dos sectores do género, abastecimento de águas e indústria e
comércio", lê-se no documento.
O INGC recomenda a mobilização de recursos adicionais para
conter o alastramento da pandemia, além da criação de hospitais de campanha nas
periferias dos principais centros urbanos.
Com um total de 39 casos oficiais, Moçambique vive em estado
de emergência durante todo o mês de Abril, com escolas, espaços de diversão e
lazer encerrados, proibição de todo o tipo de eventos e de aglomerações, além
da suspensão da emissão de vistos.
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