A Covid-19 fez-nos voltar às nossas origens, às nossas
casas, aos nossos bairros, às nossas províncias e aos nossos países. Voltámos à
essência humana e origem de tudo – uma casa, um lar e uma família orando em
tempos difíceis. Para alguns, ao filme Sozinho em Casa, para outros ao Adão e
Eva no paraíso.
- escreve: João Dono, consultor jurídico e professor universitário
Não há dúvidas de que a Covid-19 mudou o nosso dia-a-dia e
muitos dos nossos hábitos. Ao contrário do Estado de Emergência que será
temporário, as mudanças que o vírus trouxe ao mundo vieram para ficar e depois
do dia D que tanto esperamos – o fim do vírus em todo o mundo - virá o dia
Zero, um recomeço para a humanidade e surgimento de novos hábitos, novas
crenças, novos valores e novas ordens sociais, económicas, jurídicas e
religiosas.
A Covid-19 começou por ser apenas um vírus do chinês. A
Europa ficou a “dormir à sombra da bananeira”, afinal isso era coisa dos
chineses. Em pouco tempo passou a ser um vírus do mundo, tivemos que nos isolar
nas nossas casas, nas nossas províncias, nos nossos países e no nosso
continente. Passou a ser coisa séria e o terror espalhou-sepelo mundo. Todos
passamos a ser suspeitos, sem direito a presunção da inocência, quarentena
obrigatória para quem esteve em qualquer situação ou país de risco. O vírus
leva a peito o princípio da igualdade, não distingue raça, cor, condição
social, financeira, religião ou idade. Qualquer vacilo, lá vem ele. Ficar longe
dele – em casa – é a melhor opção. Ele que morra sozinho na rua, numa esquina
qualquer, mas longe das nossas casas. O mundo parou, o dia passou a ter mais de
24h, o tempo deixou de existir. Tudo o que existe somos nós, a nossa casa, a
nossa família e um vírus à espreita. Não é ficção, é a pura realidade.
A primeira lição a tirar da Covid-19 é que o planeta, como o
conhecíamos até 2019, deixou de existir. Quem ainda pensa e age como agia em
2019, com as mesmas crenças, já não pertence a este mundo, mesmo que
fisicamente ainda esteja por cá.
Esta é sem dúvida a Terceira Guerra Mundial, contra um
inimigo invisível e devastador. Não sabemos quem ordenou o ataque, apenas
sabemos que ataca todos os que encontrar pelo caminho. Para lutar contra ele,
só as FAS(Forças Armadas da Saúde). Para os países, como os africanos, que
nunca valorizaram os profissionais da Saúde, é momento de ganhar consciência de
que é preciso ter um novo exército no país – o dos profissionais da Saúde. Estes
têm deixado as famílias em casa e, sem medo, enfrentam diariamente este inimigo
público. São os soldados da linha-da-frente da Terceira Guerra Mundial. Depois
desta fase, é preciso não termos a memória curta e lembrarmo-nos de que o mundo
não terá mais guerras com tiros e explosões. Um estatuto para as FAS e a sua
consagração e protecção constitucional é um imperativo universal.
Depois da Covid-19, o mundo vai ressurgir, haverá um antes e
um depois, para sempre, dividindo o mundo em a.C. e d.C. (antes e depois do
Covid-19). Neste reiniciar, voltamos ao princípio da caminhada e temos uma nova
oportunidade de fazer diferente. Os políticos e os gestores devem ter esta
consciência e adaptar-se às novas realidades que surgirão depois da Covid-19.
Serão necessárias medidas legislativas para legitimar a nova ordem social,
económica e jurídica.
O pior erro que poderemos cometer será ignorar que tudo
voltou à normalidade e a vida pode continuar como se nada tivesse acontecido.
Pelo contrário, será necessário expandir a consciência, ter noção que este
universo é uma ínfima parte do que existe e incentivar a necessidade de
harmonizar o corpo, a mente e o espírito. Os ensinamentos da física quântica
devem ser levados a sério e introduzidos nos currículos escolares. Não podemos
continuar a iludirmo-nos e a iludir os outros de que apenas existe esta
realidade física que vemos.
A alteração dos planos curriculares, de modo a preparar as
nossas crianças e jovens para os novos tempos, será crucial para o
desenvolvimento das nações. Neste ponto,África tem oportunidade de dar um salto
quantitativo. Quando tudo pára, é a altura perfeita para preparar o reinício e
dar a volta ao jogo. A Covid-19 trouxe-nos o tempo e a oportunidade pára
criarmos uma nova África. A par das medidas preventivas, vamos preparar-nos
para os novos desafios e fazer de África, novamente, o Berço da Humanidade, no
seu verdadeiro sentido físico e espiritual.
http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/ac-e-dc-covid-19-uma-nova-oportunidade-para-africa
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