Revda. Dra Elvira Cazombo dialoga com o documento ecumênico sobre Covid-19 e gênero -
Como nota de atenção a frase “vale a pena ser mulher?” apresentada em forma de pergunta, parafraseio da interpretação formulada pela cantora Lurdes Van-Duném na música com o mesmo título. Enquanto que na música se expressa em afirmação, neste texto trazemo-la em interrogação com intenção de permitir que mais perguntas e mais respostas possam advir, pois na visão profética da autora da música, “ela {a mulher} necessita um pouco mais de sol.”
As notícias dos jornais e outras redes socias anunciam
cenário pouco abonatórias sobre a situação no mundo. A Pandemia do COVID 19 tem
vindo a desafiar homens e mulheres a pensar e a repensar suas posturas nos
modos de convivência social. Esta convivência marcada pela divisão social de
trabalho criando categorias entre o masculino e o feminino uma vez que “ninguém
nasce mulher, torna-se mulher” ( Beauvoir) .
As categorias homem /mulher criam-se socialmente. Sim a criação delas
tem como finalidade sedimentar as desigualdades nos relacionamentos sociais e a
sob posição de um sobre o outro. Nesse caso nos referenciamos a desigualdade de
gênero. O relacionamento entre gênero foi e continua sendo confuso, imbricado e
marcado entre a aproximação e distanciamento, confianças e desconfianças, amor
e repulsa. É a luta dos contrários embora a sociabilidade seja inerente ao ser
humano.
Porém em tempos normais a convivência com o outro (a) tem
sido marcada de muitos desafios.
“Sob
políticas de confinamento, muitas mulheres são forçadas a ficar em casas onde
não estão salvo ou em segurança. Elas são forçadas a viver com parceiros ou
pais abusivos, enquanto os serviços aos sobreviventes da violência de gênero
são mais difíceis de serem acessados[2]. À medida que a pandemia se desenrola,
temos testemunhado um aumento da violência entre parceiros íntimos e outras
formas de violência doméstica. Em algumas comunidades ao redor do mundo, a
violência contra as mulheres durante a pandemia por parte das agências de
segurança que aplicam o confinamento, tem sido às vezes usando força indevida”.
A pressão da força física nos trabalhos domésticos que deveriam ser partilhados
entre os membros de uma família geralmente é imposta as meninas enquanto os
meninos voltados as redes sociais e a brincadeiras vácuos, aumentando os
índices de assédios tanto sexuais como morais.
Em especificidades várias mulheres que têm serviços informais e expostos
nas ruas e de casa em casa são compulsivamente coagidas a ponto de perderem seus
produtos e até mesmo se verem sem o pão diário.
Uma das celebres frases de Simone Beauvoir diz que “é pelo
trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem,
somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta”. Por tanto o
empoderamento da mulher passa a ser o meio pelo qual a justiça de gênero e a
igualdade se tornem realidade em todo o mundo. Acreditamos que a Agenda 2030 é
fundamental para garantir que “Ninguém seja deixado para trás”. À medida que a
injustiça de gênero persistir em nosso mundo, os impactos da COVID-19 serão
mais sentidos pelas mulheres e meninas. Em todo o mundo, muitas pessoas que
estão matriculadas na assistência à saúde e ao que está relacionado à economia
do cuidado são as mulheres. Ocupar posições na linha de frente torna as mulheres
mais suscetíveis ao risco de infecção. Muitas pessoas perderão seus meios de
subsistência, como já experimentado em todo o mundo com o confinamento global.
Isso impacta a indústria de serviços e o setor informal, onde muitas mulheres
trabalham. O fechamento das escolas impactará a educação das meninas agora e a
longo prazo, com aumento do risco para o casamento infantil e o trabalho
infantil[3].
Em suma a resposta à COVID-19 deve, portanto, incluir
estratégias para enfrentar e prevenir a violência sexual e de gênero. Este
trabalho deve ser conduzido de forma holística, com uma abordagem multisetorial
para que as necessidades mentais, sociais e físicas das pessoas sejam
atendidas. Ao integrar aspectos psicossociais na abordagem, o bem-estar, a
segurança e a esperança entre sobreviventes e comunidades podem ser
fortalecidos.
"No dia em que for possível à mulher o amor não em sua
fraqueza, mas em sua força, não para escapar de si mesma, mas para se
encontrar, não para se abater, mas para se afirmar, naquele dia o amor se
voltará para ela, assim como para o homem, a fonte de vida e não de perigo
mortal. Enquanto isso, o amor representa em sua forma mais tocante a maldição
que confina a mulher em seu universo feminino, mulher mutilada, insuficiente em
si mesma” .
Durante esta crise, nosso foco será a melhor forma de trabalharmos
juntos para apoiar líderes religiosos e comunidades religiosas para responder
efetivamente às circunstâncias cada vez mais desafiadoras. Em particular, nosso
trabalho pela justiça de gênero continua sendo importante, para garantir um
futuro justo e sustentável para todos. Continuaremos a trabalhar dentro e entre
nossas comunidades religiosas para moldar um mundo sustentável e onde os
direitos humanos de todos sejam respeitados.
https://alc-noticias.net/bp/2020/04/29/em-tempos-de-pandemia-o-forum-ecumenico-act-brasil-reafirma-violencia-de-genero-e-pecado-contra-a-casa-comum/
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