sexta-feira, 26 de junho de 2020

A pandemia da fome - e se a ajuda não chegar?



Lembramo-nos da nossa infância, quando ainda, Angola se encontrava em guerra civil, nos alimentávamos dos produtos que vinham do PAM. Sabíamos que a ONU detém uma das maiores agências humanitárias que existem no mundo, o PAM - Programa Alimentar Mundial
Açúcar que necessitava ser peneirado, porque trazia uma imensidão de sujidade;
Arroz que precisava ser escolhido, pois a quantidade de pedrinhas e outras substâncias que se misturavam ao arroz era de admirar;
Feijão que levava mais de um dia no fogo e que mesmo assim, nem sempre cozia;
Fuba repleta de bichinhos e peixe seco com uma quantidade de sebo, jamais vista. O leite vinha em sacos de 10 e 25 quilos, dizia-se ser próprio para crianças desnutridas, meu Deus! Não fazemos ideia de que era feito aquele leite, mas que era estranho era.
O óleo alimentar, nas latas com um mau cheiro. As bichas, nos chamados comércios internos, para adquirir estes alimentos era uma bênção.
São memórias da nossa infância. Que nos testificam temos vindo a sofrer de fome a muito tempo, no nosso amado continente. São constatações ainda actuais, neste caso, no Iémen, no Congo e outros lugares, onde nem o arroz podre consegue chegar.
Antes era a guerra, como esta sendo hoje no Iémen, ontem foi a seca e hoje é a Covid 19. Estamos sempre em posse de uma desculpa, que tira de nós a responsabilidade pela fome e a miséria das nossas populações. Justificando assim, a nossa incapacidade de gerir com rigor os bens que Deus colocou no nosso continente.
Com todo o puder que a ONU tem, nunca poderíamos imaginar que ficaria sem recursos. Ao ponto de perspectivar o cancelamento de programas, mesmo alimentares.
Este facto, descrito nos artigos abaixo, sobre as debilidades alimentares e sanitárias no mundo mostrar-se ser mais uma prova da importância da crise provocada pelo novo coronavirus. Surpreendendo a todos, esta deixando debilitada, mesmo instituições que antes eram tidas como as mais fortes nos mercados internacionais, como é o caso da ONU.
Deus foi o nosso socorro bem presente na angústia da fome e até hoje continua a ser. Também acreditamos piamente, que Deus será o socorro do povo do Iémen, do Congo embora precisemos colaborar, metendo em prática o nosso saber a favor do povo para que o socorro de Deus, possa ser uma realidade na vida destas populações.


- Revda. Dra. Virgínia dos Santos N´kutxi
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Secretário-Geral da ONU: Aja agora para evitar a emergência alimentar global COVID-19

O Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA) projetou que o número de pessoas que provavelmente passaria fome subiria para 265 milhões no final de 2020, ante 135 milhões em 2019. Isso significa que mais 130 milhões de pessoas estão enfrentando insegurança alimentar, principalmente devido ao impacto econômico da crise do coronavírus. Salários, cadeias de suprimentos e ajuda humanitária estão sob pressão devido ao surto
No seu mais recente resumo de políticas sobre a pandemia, António Guterres concentrou-se na necessidade de proteger o acesso de todos à alimentação e nutrição adequada: por agora e no futuro.
"A menos que sejam tomadas medidas imediatas, fica cada vez mais claro que há uma emergência alimentar global iminente que pode ter impactos a longo prazo em centenas de milhões de crianças e adultos", disse ele, em uma mensagem de vídeo para acompanhar o lançamento.

Milhões já estão passando fome
Como o Secretário-Geral apontou, milhões já estavam enfrentando fome e desnutrição antes da pandemia.
Embora exista mais do que comida suficiente no mundo para alimentar todos, mais de 820 milhões de pessoas ainda não conseguem comer o suficiente, e o número sem dúvida aumentará.
Enquanto isso, cerca de 144 milhões de crianças em todo o mundo com menos de cinco anos são atrofiadas, o que significa que elas são pequenas demais para a idade, principalmente devido à desnutrição.
Guterres acrescentou que, mesmo em países com alimentos abundantes, o COVID-19 corre o risco de interromper as cadeias de suprimento de alimentos.
"Nossos sistemas alimentares estão falhando e a pandemia do COVID-19 está piorando as coisas", disse ele.
O documento de política da ONU estabelece três recomendações principais voltadas para salvar vidas e meios de subsistência, que também apoiam a transição para um futuro mais verde.

Serviços de alimentação essenciais
Primeiro, os países devem designar os serviços de alimentação e nutrição como essenciais, além de implementar proteções para aqueles que trabalham no setor.
"Significa preservar alimentos humanitários críticos, meios de subsistência e assistência nutricional a grupos vulneráveis", continuou o Secretário-Geral, "e significa posicionar alimentos em países em crise de alimentos para reforçar e ampliar os sistemas de proteção social".
As autoridades também são instadas a aumentar o apoio ao processamento de alimentos, transporte e mercados locais e garantir que os sistemas alimentares possam continuar funcionando, mantendo os corredores comerciais abertos.
Guterres acrescentou que os pacotes de ajuda e estímulo devem chegar aos mais vulneráveis, incluindo pequenos produtores de alimentos e empresas rurais.

Proteção social mais forte para nutrição
O chefe da ONU sublinhou a necessidade de fortalecer os sistemas de proteção social para nutrição, que incluem o apoio a milhões de crianças em todo o mundo atualmente perdendo programas de alimentação escolar.
Os países precisam garantir o acesso a alimentos seguros e nutritivos, principalmente para crianças pequenas, mulheres grávidas e que amamentam, idosos e outros grupos de risco. E eles precisam se adaptar e expandir os esquemas de proteção social para beneficiar grupos de risco nutricional ”, afirmou.

Construindo melhores sistemas alimentares
Olhando além da pandemia, o Secretário-Geral apelou à transformação dos sistemas alimentares para alcançar um mundo mais inclusivo e sustentável.
"Não podemos esquecer que os sistemas alimentares contribuem com até 29% de todas as emissões de gases de efeito estufa, incluindo 44% de metano, e estão tendo um impacto negativo na biodiversidade".
Guterres instou os países a construir sistemas alimentares que atendam às necessidades de produtores e trabalhadores e a erradicar a fome, garantindo que mais pessoas tenham acesso a alimentos saudáveis ​​e nutritivos.

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O caso do IEMEN - Covid-19: Programas que combatem vírus no Iémen podem parar no final de Junho
No final de Abril, o comité encarregado da luta contra a doença Covid-19 no Ministério da Saúde iemenita anunciou os primeiros casos de contágio no país, a maioria identificados em Aden, cidade de 550.000 habitantes já atingida por surtos de dengue, malária ou chikungunya.

O serviço dos Assuntos Civis, responsável pela emissão das certidões de óbito, regista actualmente dezenas de mortes por dia na cidade.
Só no sábado, Aden registou “mais de 80 mortes causadas por diferentes epidemias”, precisou à AFP Sand Jamil, à frente daquele serviço, sem mencionar o novo coronavírus. Adiantou que normalmente são emitidas uma dezena de certidões por dia.
O número de mortos diariamente aumentou sete vezes, estimou em declarações à AFP Saddam al-Haidari, médico que trabalha num hospital público de Aden. Estas fontes não conseguem estabelecer com certeza a ligação entre as mortes e o novo coronavírus, mas a ONG Save the Children evoca claramente a pandemia.
“As nossas equipas no terreno veem as pessoas respirando com dificuldade e até desmaiando, mesmo depois de receberem alta hospitalar. Estas pessoas morrem porque não podem receber o tratamento que as salvaria”, lamenta Mohammed Alshamaa, director dos programas da Save The Children no Iémen.
“Estamos face a uma catástrofe em Aden”, considerou Yasser Bamallem, médico no hospital público Al-Jumuriah. “Já lutávamos contra o dengue ou a chikungunya (...) com mortalidade em baixa”, lembrou à AFP. “Mas a taxa de mortalidade aumentou com a propagação do novo coronavírus”, adiantou. Controlada pelos separatistas que reivindicam a independência do sul do Iémen, Aden não observa o confinamento, não existem testes de rastreio da Covid-19 e as pessoas doentes não ficam de quarentena.
Foram realizadas campanhas de desinfecção, mas por falta de equipamento os hospitais deixaram de admitir doentes com sintomas semelhantes aos da doença e houve médicos a abandonar os seus postos, segundo vários depoimentos de pessoal de saúde. Num comunicado onde cita responsáveis locais, a Save the Children deu conta da morte, numa semana, de 385 pessoas que tinham sintomas semelhantes aos provocados pelo novo coronavírus.
No hospital privado Al-Kubi, as consultas passaram de 150 por dia há algumas semanas para mais de 400 actualmente, com equipas reduzidas, confessa o director do estabelecimento de saúde, Yasser al-Nassiri.
Entre os doentes muitos apresentam sintomas próximos dos da Covid-19, disse.
“O conflito entre o governo e o Conselho de Transição do Sul (STC na sigla em inglês, que proclamou a autonomia do Sul no final de Abril), assim como os combates em Abyane complicam a situação”, indica Nassiri à AFP, numa referência a uma província adjacente à de Aden onde os dois lados se confrontam.
O Iémen é palco desde meados de 2014 de uma guerra entre os rebeldes huthis - apoiados pelo Irão e que controlam sobretudo regiões no norte e oeste do país, incluindo a capital Sanaa - e o Governo reconhecido internacionalmente e que é ajudado desde 2015 por uma coligação internacional dirigida pela Arábia Saudita. Este conflito provocou a pior crise humanitária do mundo, segundo as Nações Unidas.


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