ANGOLA/Kwanza Norte: Ajuda alimentar do Governo não chega às
famílias
A população mais necessitada da província angolana do Kwanza
Norte queixa-se de fome e pobreza extrema, agravadas pela pandemia da Covid-19.
O governo local distribuiu cestas básicas, mas a ajuda não chega a todos.
A angolana Luzia Senga chora devido à fome© DW/A. Domingos A
angolana Luzia Senga chora devido à fome
Margarida Pedro José pede ajuda. Tem 50 anos de idade e nove
familiares à sua guarda, entre eles, crianças que perderam o pai e a mãe, para
além de uma idosa de mais de 90 anos. Margarida diz que mal tem comida para dar
à sua família.
"A situação é mesmo grave, porque não temos apoio de
ninguém. Não tenho mãe, não tenho pai. Eu sou o pai e sou a mãe. Eu não
trabalho. A situação está mesmo difícil", conta.
Margarida vive no bairro da Mesquita, na capital provincial
Ndalatando, e lança um grito de socorro ao governo local: "Nunca vimos
nada desde dezembro. [Peço] que o governo me apoie, devido às crianças órfãs de
pai e mãe".
Susana Joaquim vive noutro bairro de Ndalatando, Vieta. Mora
com mais cinco familiares e também está a passar por muitas dificuldades.
Susana diz que, com a pandemia da Covid-19, a situação piorou.
"Muita fome, muito sofrimento mesmo. Desde que veio
esse problema do coronavírus estamos a sofrer muito", sublinha a moradora.
Cesta básica não chega a todos
Angola acaba de sair de dois meses de estado de emergência.
A medida foi decretada pelo Presidente angolano, João Lourenço, para travar a
propagação da Covid-19 no país. As escolas fecharam as portas, foram impostas
restrições à circulação e passaram a ser proibidos os mercados informais de rua
e a venda ambulante de bens não essenciais. Foi por isso que a situação se
agravou, conta Catarina Viriato, residente no bairro CTT, no município de
Lucala.
"É a realidade da fome mesmo. Nós passamos mal. Para
comermos, não temos como fazer. Não trabalhamos, não vendemos, nada estamos a
fazer. Para conseguirmos comer é difícil mesmo. E a alimentação que eles deram,
não nos abrange", revela.
Marisa Caetano, que mora na cidade do Dondo, município de
Kambambe, explica que, no seu bairro, só foram distribuídos alimentos a idosos
e pessoas com deficiência física.
"Só estão a entregar àquelas pessoas que sofrem. No
nosso caso, não estão [a distribuir], porque nós fazemos biscates",
explica a moradora.
As autoridades da província confirmam. As cestas básicas só
foram distribuídas às "pessoas mais vulneráveis", segundo a diretora
do gabinete provincial da Ação Social, Família e Igualdade de Género do Kwanza
Norte, Vitória Braga. Ao todo, mais de cinco mil famílias confinadas em todos
os municípios da província foram beneficiadas.
Ajuda das igrejas é essencial
Vitória Braga tem consciência de que a ajuda governamental
não chega: "É pouco, sabemos que o governo não vai conseguir distribuir
para todos, mas ainda assim contamos com as associações e as igrejas, no
sentido de se unirem para assim fazerem chegar [a ajuda] a todos os utentes
necessitados da província", afirma.
Lúcio Marques: © DW/A. Domingos Lúcio Marques
O padre Apolinário Perez, pároco de Bolongongo e responsável
da Cáritas local, refere que a Igreja já está a ajudar dezenas de famílias.
"Neste momento, os mais necessitados são 43 famílias,
sem contar com as crianças. Crianças órfãs de pai e outros de mãe. Também temos
o internato das irmãs, com 16 meninas que são órfãs de pai e de mãe e estão ao
nosso cuidado", indica o pároco.
O pastor da Igreja Evangélica Congregacional em Angola,
Lúcio Marques, reforça o alerta de que há muitas famílias que precisam de ajuda
urgente.
"Temos muita gente que não tem nem sequer uma refeição
por dia, temos gente que depende de doação. O Estado tem vindo a falar que
temos de combater a pobreza. Mas é bom que este combate à pobreza saia do papel
para a prática. Se assim não for, as famílias continuarão cada vez mais pobres
e é claro que a pobreza pode trazer consigo outras consequências", alerta.
O fenómeno da fome é estrutural, afirma o pastor Lúcio
Marques, e é preciso fazer muito mais do que foi feito até aqui. "É um fenómeno
que se observa em todo país, e o Kwanza Norte não é exceção. Com a Covid-19 e,
consequentemente, o isolamento social, as famílias claramente ficaram cada vez
mais vulneráveis", diz.
Fonte:
António Domingos (Ndalatando)
https://www.msn.com/pt-pt/noticias/outras/kwanza-norte-ajuda-alimentar-do-governo-n%c3%a3o-chega-%c3%a0s-fam%c3%adlias/ar-BB15jnyx#image=1
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