- Organização humanitária da Igreja Luterana e outras ONGs alertam para danos colaterais da pandemia na África. A Conferência de Igrejas de Toda a África nos lembra: " As igrejas na África, no espírito do Ubuntu, são chamadas a se lembrar de Jesus dizendo que a maneira como o servimos é servindo as pessoas em nosso meio que precisam de atenção extra de maneiras diferentes. E agradecemos a Deus que muitas igrejas estão fazendo isso."
Segundo o Arcebispo Desmond Tutu:
“Uma pessoa com Ubuntu está aberta e disponível para as
outras, apoia as outras, não se sente ameaçada quando outras pessoas são
capazes e boas, com base em uma autoconfiança que vem do conhecimento de que
ele ou ela pertence a algo maior que é diminuído quando outras pessoas são
humilhadas ou diminuídas, quando são torturadas ou oprimidas. ”
Portanto o conceito exprime a crença na comunhão que conecta
toda a humanidade: "sou o que sou graças ao que somos todos nós".
- 1 de junho de 2020
Organizações alertam que medidas de combate ao covid-19 no continente estão fazendo com que crianças não sejam vacinadas, outras doenças sejam negligenciadas, enquanto fome ameaça matar milhões de pessoas.
Organizações alertam que medidas de combate ao covid-19 no continente estão fazendo com que crianças não sejam vacinadas, outras doenças sejam negligenciadas, enquanto fome ameaça matar milhões de pessoas.
Já em fevereiro, quando o surto do novo coronavírus estava
restrito quase exclusivamente à China, os especialistas soaram o alarme: uma
vez que o vírus chegasse à África, uma catástrofe incontrolável ocorreria ali
devido aos sistemas precários de saúde. Até agora, no entanto, os números da
covid-19 não fornecem um cenário de catástrofe para o continente africano ‒
provavelmente também porque os governos locais reagiram cedo e de forma
abrangente ao perigo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 100
mil pessoas foram comprovadamente infectadas pelo novo coronavírus na África.
Mesmo que o número real de casos seja provavelmente maior devido à falta de
testagem ‒ já está claro que o transcurso da pandemia no continente é menos
fatal que, por exemplo, na Europa.
Até agora, na África, foram relatadas 3.100 mortes
relacionadas à doença pulmonar covid-19. Em comparação: quando 100 mil casos de
infecção por coronavírus foram relatados na Europa, ali já se contabilizavam
4.900 mortes. A análise inicial sugere que a taxa de mortalidade relativamente
baixa pode ter a ver com a estrutura demográfica do continente africano, onde
mais de 60% da população tem menos de 25 anos.
Sem vacinação de
rotina para crianças
Portanto, é ainda mais necessário analisar os "danos
colaterais" da luta contra o coronavírus, afirma Anne Jung, responsável de
saúde global na organização humanitária Medico International. Ela ressalta que,
devido aos abrangentes lockdowns em muitos países africanos, vacinas de rotina
não puderam ser aplicadas em crianças, como contra o sarampo. Anne Jung diz
temer que medidas diretas para conter a pandemia de covid-19 possam levar a um
aumento de outras doenças infecciosas, especialmente em crianças.
Estudos atuais da OMS parecem confirmar os receios de Jung:
117 milhões de crianças em 24 países, a maioria deles na África, não puderam
receber a vacina contra o sarampo devido à pandemia. Gavi, uma aliança de
vacinas e imunização, calcula que 13,5 milhões de pessoas não receberam
importantes vacinas por causa da suspensão de campanhas de vacinação. Por sua
vez, isso pode levar ao ressurgimento de doenças infecciosas, como sarampo ou
poliomielite.
Coronavírus freia
luta contra aids e tuberculose
Como no resto do mundo, muitos países da África estão
reestruturando seus sistemas de saúde para enfrentar a covid-19. Mas o que
parece razoável implica que, em muitos lugares, vários programas rotineiros da
área da saúde tenham sido cancelados. Segundo Anne Jung, já existem problemas
no combate à tuberculose, por exemplo. Essa doença é tão contagiosa quanto a
covid-19 e é geralmente fatal: "Devido ao coronavírus, as máscaras
necessárias para tratar pacientes com tuberculose estão em falta em toda a
África", disse Jung.
Faltam remédios e
mosquiteiros para doentes de malária, dizem ONGs
A ONG Parceria Stop TB adverte que as interrupções nos
cuidados de saúde relacionadas com a covid-19 na África Subsaariana podem
resultar em 6,3 milhões de casos adicionais de tuberculose e em 1,4 milhão de
mortes a mais entre 2020 e 2025. Além disso, principalmente na África, a
tuberculose é frequentemente associada à aids.
Segundo um estudo da OMS e do Unaids (Programa Conjunto das
Nações Unidas sobre HIV/Aids), atualmente, o tratamento de pacientes com
doenças relacionadas ao HIV também está sofrendo restrições. Como o
fornecimento de medicamentos antirretrovirais não pode mais ser garantido em
muitos lugares, neste e no próximo ano mais de 500 mil pessoas a mais poderão morrer
por enfermidades decorrentes da aids.
Dobro dos casos de
malária?
"Com ou sem o coronavírus: a malária é e continua sendo
de longe a principal causa de morte na África, especialmente crianças são
afetadas", diz Javier Macias, médico espanhol que atua como consultor há
mais de 30 anos em vários países africanos e que agora trabalha em Angola. Em
conversa com a DW, Macias alertou que, este ano, o número de mortos por malária
na África poderá ser o dobro de anos anteriores, se a luta contra essa doença for
dificultada pela pandemia da coronavírus.
"Aqui em Angola já é fato que remédios contra malária e
mosquiteiros não estão conseguindo chegar aos afetados. Tudo isso porque o
sistema de saúde está concentrado principalmente no combate à covid-19",
explica Macias. O médico relatou um caso específico em Huambo, segunda maior
cidade do país: um vendedor ambulante com sintomas agudos de malária foi para o
hospital, mas foi enviado para casa com a observação de que "apenas os
casos mais urgentes, bem como os casos de covid-19 estão sendo tratados."
Já no final de abril, a OMS também havia alertado para um
aumento iminente das mortes por malária: segundo a organização, neste ano, na
pior das hipóteses, podem-se esperar 769 mil mortes por malária na África
Subsaariana, ou seja, duas vezes mais que em 2018. Em comparação: no pior
cenário da epidemia de coronavírus, a OMS está prevendo para 2020 entre 83 mil
e 190 mil mortes diretas por covid-19 no continente africano ‒ e apenas se o
vírus puder se espalhar incontroladamente sem que contramedidas sejam tomadas.
Fome como dano
colateral
Mas os danos colaterais do coronavírus não se restringem
apenas às consequências de outras doenças, enfatiza Reimund Reubelt: "O
coronavírus também pode matar pela fome". O chefe da organização
humanitária Hope Sign alertou em entrevista à DW: "Grande parte do
território africano vem sendo abalado há décadas pela fome, que afeta
atualmente até 250 milhões de pessoas. E agora vem um vírus que acirra ainda
mais a má situação alimentar."
Segundo o ativista, muitas pessoas estão podendo comprar
ainda menos alimentos porque os preços aumentaram devido à crise de
coronavírus. Por causa dos lockdowns, trabalhadores diaristas perderam o
emprego e não ganham mais nenhum dinheiro. Os bloqueios dificultaram o
abastecimento, explica Reubelt. "Não apenas o vírus em si, mas também os
efeitos das medidas de combate são um fardo enorme para as pessoas. Em
combinação com a fome, a covid-19 pode se tornar um flagelo mortal na
África", teme Reubelt.
Thomas Beckmann, da Diakonie Katastrophenhilfe, organização
de ajuda de emergência da Igreja luterana, diz ver a situação da mesma forma:
"As medidas de combate ao coronavírus adotadas por muitos países africanos
aumentaram significativamente a fome. Os campos não podem mais ser cultivados
devido a restrições de circulação."
A situação na África Oriental, onde existem atualmente
enormes enxames de gafanhotos, é particularmente dramática: "A situação
alimentar já estava ameaçada por essa praga e agora vem o coronavírus, ou seja,
mais uma crise", resumiu o porta-voz da Diakonie Katastrophenhilfe.
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