domingo, 14 de junho de 2020

Coronavírus dificulta esforços contra a malária na África. Relembrar os compromissos de Igrejas e Governos.




Há mais de 100 casos positivos de Covid-19 (junho 2020) e cinco mortes provocadas pela doença. Mas é a malária que mais continua a matar no país. Só na província da Huíla morreram mais de 400 pessoas no primeiro trimestre deste ano.

A malária, principal causa de morte em Angola, continua a fazer centenas de vítimas mortais. Só na província angolana da Huíla, a região mais afetada, mais de 450 pessoas morreram no primeiro trimestre deste ano.


Saúde em África: Como combater a malária?

As autoridades sanitárias locais garantem estar atentas ao aumento dos casos da doença.

"Discutimos, amplamente, como é que podemos melhorar a qualidade da abordagem. Então, estou muito confiante. Penso que será ultrapassado com brevidade", afirmou a diretora provincial de Saúde, Luciana Guimarães, em declarações à Rádio Nacional de Angola (RNA).

Outras regiões de Angola também registam centenas de mortes por malária, em milhares de casos diagnosticados.



Pico da malária

Em entrevista à DW África, o médico Maurílio Luiele lembra que o pico da doença em Angola ocorre por esta altura do ano, devido ao volume da chuvas, que favorece a proliferação de mosquitos transmissores da malária.

"O aumento de casos de malária nesta época é perfeitamente esperado. Esta é a altura do pico sazonal da malária."

Dados divulgados em 2018 pelas autoridades sanitárias angolanas indicam que mais de 2,5 milhões de casos de malária foram registados naquele ano. O Governo anunciou, entretanto, que pretende acabar com a malária até 2030.

Não esquecer malária, apesar da Covid-19

O médico Maurílio Luiele diz ter notado que, com a chegada ao país da pandemia do coronavírus, a atenção em relação a outras doenças diminuiu.

"O foco foi totalmente voltado para a Covid-19. O problema é este. Eu penso que é preciso manter algum equilibrio, e isto é perfeitamente possível."

O especialista reconhece, no entanto, a importância que se dá às ações na luta contra a Covid-19.

"A atenção voltada para Covid-19 justifica-se, tendo em conta a rápida propagação e a dimensão geográfica que a pandemia assumiu. Para se inverter o quadro atual, é preciso que o Governo e a população adotem as medidas de prevenção necessárias contra a malária", apela o médico.

Maurílio Luiele acrescenta ainda que é necessário melhorar o saneamento básico, com "ações de fumigação e ações diretas das famílias e dos indivíduos, como o uso dos mosquiteiros, repelentes e inseticidas."




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Coronavírus dificulta esforços contra a malária na África
A pandemia do COVID-19 pode prejudicar o progresso feito no combate à malária na África subsaariana, alerta a Organização Mundial da Saúde. 
Enquanto as nações trabalham para impedir a disseminação do coronavírus, as medidas de controle da malária foram interrompidas e os casos começaram a aumentar em algumas regiões, incluindo o Zimbábue, onde os três hospitais-missão da Igreja Metodista Unida relatam um aumento acentuado nos pacientes com malária.
Uma nova análise publicada pela Organização Mundial da Saúde prevê que as mortes causadas pela malária na África subsaariana podem saltar para 769.000 em 2020 - o dobro do número de mortes relatadas na região em 2018. Esse seria o pior cenário possível para suspender todas as campanhas líquidas tratadas com inseticida e uma redução de 75% no acesso a medicamentos antimaláricos eficazes.
A declaração da OMS disse que os números "representariam um retorno aos níveis de mortalidade por malária vistos pela última vez há 20 anos".
A malária é uma doença evitável e tratável causada por parasitas que são transmitidos às pessoas através de picadas de mosquitos fêmeas infectados por Anopheles.
No Zimbábue, foram registradas 205 mortes por malária em 23 de abril e mais de 203.000 infecções, de acordo com o Dr. Obadiah Moyo, Ministro da Saúde e Assistência à Criança. Durante seu discurso na véspera do Dia Mundial da Malária, em 25 de abril, ele disse que os números representam um aumento de 59,9% nos casos e um aumento de 86,6% nas mortes no ano passado.
Enquanto isso, o coronavírus já matou quatro vidas no Zimbábue, com pelo menos 34 casos confirmados.
 As instituições de saúde metodistas unidas no Zimbábue estão lutando para conter as duas doenças.
O Dr. Larry Tanyanyiwa, superintendente médico do Hospital da Missão Metodista Unida Nyadire, disse que, no meio da preparação para combater a pandemia do COVID-19, um aumento alarmante de pacientes com malária chegou ao hospital.



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Covid-19: Responsável da ONU acusa indústria de abandonar doentes com malária
8 de Maio, 2020

O responsável da ONU pela luta contra a malária acusou hoje a indústria farmacêutica de abandonar os portadores desta doença para produzir testes ao novo coronavírus, levando à interrupção de tratamentos que podem desproteger meio milhão de pessoas.

A luta contra a malária, doença que além de África também está presente em vários países da América Latina e da Ásia, é uma das muitas vítimas colaterais da covid-19 e as consequências podem ser tão graves como voltar ao ponto em que se encontrava há 20 anos.

Pedro Alonso Fernández, um dos maiores especialistas mundiais em malária, que investiga há mais de 35 anos a doença, recorda numa entrevista à agência Efe que as doenças infecciosas, como a covid-19 ou a malária, não são uma coisa do século XIX, mas que o Ocidente se esqueceu disso, optando por concentrar-se nas doenças crónicas. Agora, está a pagar as consequências.

A ideia de que o que está a acontecer em África não atingirá os outros continentes é “uma miragem”, disse, recordando que o HIV, outra doença infecciosa causada por um vírus, apareceu algures no centro deste continente, mas chegou a todos os cantos do mundo. E veio para ficar.

Devido a este retrocesso no combate à malária, provocado pelo covid-19, o especialista espera, num cenário mais pessimista, que o número de mortes por malária em África poderá duplicar para 750.000 ou 760.000 este ano.



“Este é um cenário pessimista, que é muito preocupante e nos levaria de volta ao ponto em que nos encontrávamos há mais de 20 anos”, sublinhou.

A maior preocupação de quem está nesta batalha é a interrupção dos testes rápidos para o diagnóstico da malária.

“Alguns dos principais produtores mundiais estão a transferir a sua capacidade de produzir diagnósticos para o covid-19, o que, numa questão de semanas, poderá constituir um grave problema de escassez geral”, disse.

Além disso, prosseguiu, há sinais de um aumento de casos de malária que podem estar relacionados com medidas de contenção e restrições à distribuição de mosquiteiros e campanhas de pulverização interna, o que pode ter um impacto terrível no controlo da malária.

“Foi por isso que a Organização Mundial de Saúde emitiu diretivas para continuar a distribuir mosquiteiros sem risco de propagação do coronavírus. Não podemos deixar uma grande parte da população desprotegida contra a malária, que é o grande risco que enfrentamos”, adiantou.

Sobre a reação da indústria, revelou que “60% de todos os testes utilizados (de detecção da malária) provêm de um fornecedor norte-americano que pretende transferir toda a sua produção para a covid-19.

“Se não tivermos acesso a estes testes, seria uma enorme catástrofe, pelo que estamos a negociar com eles e a explicar-lhes que este não é o momento de abandonar o diagnóstico da malária, que se for organizado com seis meses ou um ano de antecedência outros poderão aumentar a sua capacidade”, disse.

Sobre a vacina contra a malária, afirmou que a sua aplicação-piloto começou há um ano e já abrangeu 250.000 crianças de um plano de 350.000 por ano, durante cinco anos, em três países: Quénia, Gana e Maláui.

“Durante esse período, iremos recolher os dados e, esperemos, dentro de ano e meio, a OMS poderá considerar a possibilidade de os recomendar em grande escala”, referiu.

Mas ressalvou que, habitualmente, as vacinas têm uma eficácia de 80 ou 90% e de apenas 40% na vacina contra a malária, mas “a luta contra a malária é a soma de diferentes intervenções imperfeitas”.

“Nem as redes mosquiteiras são a solução perfeita, nem a pulverização intradomiciliária com insecticidas, mas foram feitos progressos quando conseguimos somar coisas que não são fantásticas em si mesmas, mas que, em conjunto, salvaram sete milhões de vidas em 10 anos”, declarou.

Em relação ao acesso à cloroquina e à hidroxicloroquina, utilizadas para a malária, mas que têm sido usadas experimentalmente contra a covid-19, o especialista recordou que, “como resultado do seu uso, e especialmente dos comentários favoráveis do Presidente dos Estados Unidos”, muitos países começaram a adquiri-las e a usá-las, embora sem provas suficientes da sua eficácia na prevenção ou no tratamento do novo coronavírus.

“Esta situação tem causado enormes tensões no mercado internacional e tem limitado o acesso a este produto. No caso da malária, são utilizados anualmente entre 13 e 14 milhões de tratamentos, e neste momento não estamos muito preocupados, mas se houvesse faltas, teríamos alternativas à base de artemisina”, adiantou.

E concluiu: “Espero que consigamos sair desta crise com pelo menos algumas lições aprendidas. O mundo ocidental deixou de lado as doenças infecciosas porque pensava que eram algo do século XIX, um assunto ultrapassado, mas se há apenas uma coisa no domínio da saúde capaz de representar um risco existencial para a humanidade, é uma doença infecciosa. Em três meses, um vírus deixou cinco mil milhões de pessoas em casa, causando uma catástrofe sanitária e económica global. A segunda lição é que temos de sair disto com mais igualdade e não com mais desigualdade, com esquemas mentais que ultrapassem as fronteiras e nos façam compreender que o que acontece noutra parte do mundo deve ser do nosso interesse”.

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“Este é o chamado da Igreja”: 
Trabalhando além das fronteiras para eliminar a malária no Sul da África

24 de abril de 2019


Isdell: Iniciativa Transfronteiriça de Combate à Malária



Este programa inspirador está tendo um impacto notável na eliminação da malária, envolvendo igrejas e comunidades locais, incluindo dioceses nas Províncias da África Central e Austral. Os últimos desenvolvimentos desta iniciativa foram discutidos na sua Mesa Redonda em Livingstone, Zâmbia, em março de 2019.

A Iniciativa além da fronteira contra a malária destaca a importante contribuição das comunidades religiosas como atores significativos nos esforços para eliminar a malária. O desafio é como se conectar com as populações mais difíceis de alcançar: como fazer a última milha na prevenção, detecção e tratamento da malária.

Nesta iniciativa, a igreja local trabalha ao lado de serviços de saúde, pesquisadores e sociedade civil, viajando a última milha, estendendo o alcance e o impacto dos serviços de saúde locais ainda mais para a comunidade - e com dados para comprová-lo.

Em todo o mundo, houve um progresso significativo em direção à eliminação da malária nos últimos 15 anos: o número de mortes por malária foi reduzido quase pela metade desde 2004 (de mais de 790.000 em 2004 para cerca de 435.000 em 2017), e 37 países que anteriormente tinham malária são agora livre de malária. No entanto, 3 bilhões de pessoas vivem em lugares que ainda correm risco de malária. A iniciativa Isdell: Flowers concentra-se nas áreas de risco além das fronteiras nacionais, onde os esforços de eliminação da malária se beneficiam de respostas e políticas coordenadas entre os países vizinhos.

Esta iniciativa faz parceria com governos nacionais, a Igreja Anglicana, organizações não-governamentais (ONGs) e membros da comunidade para eliminar a malária nas fronteiras compartilhadas de Angola, Namíbia, Zâmbia e Zimbábue. É composto por 1.700 voluntários comunitários da malária, que fornecem educação, testes rápidos e tratamento em locais que estão fora do alcance da maioria das ONGs e até dos serviços governamentais.




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