Há mais de 100 casos positivos de Covid-19 (junho 2020) e cinco mortes provocadas pela doença. Mas é a malária que mais continua a matar no país. Só na província da Huíla morreram mais de 400 pessoas no primeiro trimestre deste ano.
A malária, principal causa de morte em Angola, continua
a fazer centenas de vítimas mortais. Só na província angolana da Huíla, a
região mais afetada, mais de 450 pessoas morreram no primeiro trimestre deste
ano.
Saúde em África: Como combater a malária?
As autoridades sanitárias locais garantem estar atentas ao aumento dos
casos da doença.
"Discutimos, amplamente, como é que podemos melhorar a qualidade
da abordagem. Então, estou muito confiante. Penso que será ultrapassado com
brevidade", afirmou a diretora provincial de Saúde, Luciana Guimarães, em
declarações à Rádio Nacional de Angola (RNA).
Outras regiões de Angola também registam centenas de mortes por
malária, em milhares de casos diagnosticados.
Pico da malária
Em entrevista à DW África, o médico Maurílio Luiele lembra que o pico
da doença em Angola ocorre por esta altura do ano, devido ao volume da chuvas,
que favorece a proliferação de mosquitos transmissores da malária.
"O aumento de casos de malária nesta época é perfeitamente
esperado. Esta é a altura do pico sazonal da malária."
Dados divulgados em 2018 pelas autoridades sanitárias angolanas indicam
que mais de 2,5 milhões de casos de malária foram registados naquele ano. O
Governo anunciou, entretanto, que pretende acabar com a malária até 2030.
Não esquecer malária, apesar da Covid-19
O médico Maurílio Luiele diz ter notado que, com a chegada ao país da
pandemia do coronavírus, a atenção em relação a outras doenças diminuiu.
"O foco foi totalmente voltado para a Covid-19. O problema é este.
Eu penso que é preciso manter algum equilibrio, e isto é perfeitamente
possível."
O especialista reconhece, no entanto, a importância que se dá às ações
na luta contra a Covid-19.
"A atenção voltada para Covid-19 justifica-se, tendo em conta a
rápida propagação e a dimensão geográfica que a pandemia assumiu. Para se
inverter o quadro atual, é preciso que o Governo e a população adotem as
medidas de prevenção necessárias contra a malária", apela o médico.
Maurílio Luiele acrescenta ainda que é necessário melhorar o saneamento
básico, com "ações de fumigação e ações diretas das famílias e dos
indivíduos, como o uso dos mosquiteiros, repelentes e inseticidas."
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Coronavírus dificulta esforços contra a malária na África
A pandemia do COVID-19 pode prejudicar o progresso feito no combate à
malária na África subsaariana, alerta a Organização Mundial da Saúde.
Enquanto as nações trabalham para impedir a disseminação do
coronavírus, as medidas de controle da malária foram interrompidas e os casos
começaram a aumentar em algumas regiões, incluindo o Zimbábue, onde os três
hospitais-missão da Igreja Metodista Unida relatam um aumento acentuado nos
pacientes com malária.
Uma nova análise publicada pela Organização Mundial da Saúde prevê que
as mortes causadas pela malária na África subsaariana podem saltar para 769.000
em 2020 - o dobro do número de mortes relatadas na região em 2018. Esse seria o
pior cenário possível para suspender todas as campanhas líquidas tratadas com
inseticida e uma redução de 75% no acesso a medicamentos antimaláricos
eficazes.
A declaração da OMS disse que os números "representariam um
retorno aos níveis de mortalidade por malária vistos pela última vez há 20
anos".
A malária é uma doença evitável e tratável causada por parasitas que
são transmitidos às pessoas através de picadas de mosquitos fêmeas infectados
por Anopheles.
No Zimbábue, foram registradas 205 mortes por malária em 23 de abril e
mais de 203.000 infecções, de acordo com o Dr. Obadiah Moyo, Ministro da Saúde
e Assistência à Criança. Durante seu discurso na véspera do Dia Mundial da
Malária, em 25 de abril, ele disse que os números representam um aumento de
59,9% nos casos e um aumento de 86,6% nas mortes no ano passado.
Enquanto isso, o coronavírus já matou quatro vidas no Zimbábue, com
pelo menos 34 casos confirmados.
O Dr. Larry Tanyanyiwa, superintendente médico do Hospital da Missão
Metodista Unida Nyadire, disse que, no meio da preparação para combater a
pandemia do COVID-19, um aumento alarmante de pacientes com malária chegou ao
hospital.
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Covid-19: Responsável da ONU
acusa indústria de abandonar doentes com malária
8 de Maio, 2020
O responsável da ONU pela luta contra a malária acusou hoje a indústria
farmacêutica de abandonar os portadores desta doença para produzir testes ao
novo coronavírus, levando à interrupção de tratamentos que podem desproteger
meio milhão de pessoas.
A luta contra a malária, doença que além de África também está presente
em vários países da América Latina e da Ásia, é uma das muitas vítimas
colaterais da covid-19 e as consequências podem ser tão graves como voltar ao
ponto em que se encontrava há 20 anos.
Pedro Alonso Fernández, um dos maiores especialistas mundiais em
malária, que investiga há mais de 35 anos a doença, recorda numa entrevista à
agência Efe que as doenças infecciosas, como a covid-19 ou a malária, não são
uma coisa do século XIX, mas que o Ocidente se esqueceu disso, optando por
concentrar-se nas doenças crónicas. Agora, está a pagar as consequências.
A ideia de que o que está a acontecer em África não atingirá os outros
continentes é “uma miragem”, disse, recordando que o HIV, outra doença
infecciosa causada por um vírus, apareceu algures no centro deste continente,
mas chegou a todos os cantos do mundo. E veio para ficar.
Devido a este retrocesso no combate à malária, provocado pelo covid-19,
o especialista espera, num cenário mais pessimista, que o número de mortes por
malária em África poderá duplicar para 750.000 ou 760.000 este ano.
“Este é um cenário pessimista, que é muito preocupante e nos levaria de
volta ao ponto em que nos encontrávamos há mais de 20 anos”, sublinhou.
A maior preocupação de quem está nesta batalha é a interrupção dos
testes rápidos para o diagnóstico da malária.
“Alguns dos principais produtores mundiais estão a transferir a sua
capacidade de produzir diagnósticos para o covid-19, o que, numa questão de
semanas, poderá constituir um grave problema de escassez geral”, disse.
Além disso, prosseguiu, há sinais de um aumento de casos de malária que
podem estar relacionados com medidas de contenção e restrições à distribuição
de mosquiteiros e campanhas de pulverização interna, o que pode ter um impacto
terrível no controlo da malária.
“Foi por isso que a Organização Mundial de Saúde emitiu diretivas para
continuar a distribuir mosquiteiros sem risco de propagação do coronavírus. Não
podemos deixar uma grande parte da população desprotegida contra a malária, que
é o grande risco que enfrentamos”, adiantou.
Sobre a reação da indústria, revelou que “60% de todos os testes
utilizados (de detecção da malária) provêm de um fornecedor norte-americano que
pretende transferir toda a sua produção para a covid-19.
“Se não tivermos acesso a estes testes, seria uma enorme catástrofe,
pelo que estamos a negociar com eles e a explicar-lhes que este não é o momento
de abandonar o diagnóstico da malária, que se for organizado com seis meses ou
um ano de antecedência outros poderão aumentar a sua capacidade”, disse.
Sobre a vacina contra a malária, afirmou que a sua aplicação-piloto
começou há um ano e já abrangeu 250.000 crianças de um plano de 350.000 por
ano, durante cinco anos, em três países: Quénia, Gana e Maláui.
“Durante esse período, iremos recolher os dados e, esperemos, dentro de
ano e meio, a OMS poderá considerar a possibilidade de os recomendar em grande
escala”, referiu.
Mas ressalvou que, habitualmente, as vacinas têm uma eficácia de 80 ou
90% e de apenas 40% na vacina contra a malária, mas “a luta contra a malária é
a soma de diferentes intervenções imperfeitas”.
“Nem as redes mosquiteiras são a solução perfeita, nem a pulverização
intradomiciliária com insecticidas, mas foram feitos progressos quando
conseguimos somar coisas que não são fantásticas em si mesmas, mas que, em
conjunto, salvaram sete milhões de vidas em 10 anos”, declarou.
Em relação ao acesso à cloroquina e à hidroxicloroquina, utilizadas para
a malária, mas que têm sido usadas experimentalmente contra a covid-19, o
especialista recordou que, “como resultado do seu uso, e especialmente dos
comentários favoráveis do Presidente dos Estados Unidos”, muitos países
começaram a adquiri-las e a usá-las, embora sem provas suficientes da sua
eficácia na prevenção ou no tratamento do novo coronavírus.
“Esta situação tem causado enormes tensões no mercado internacional e
tem limitado o acesso a este produto. No caso da malária, são utilizados
anualmente entre 13 e 14 milhões de tratamentos, e neste momento não estamos
muito preocupados, mas se houvesse faltas, teríamos alternativas à base de
artemisina”, adiantou.
E concluiu: “Espero que consigamos sair desta crise com pelo menos
algumas lições aprendidas. O mundo ocidental deixou de lado as doenças
infecciosas porque pensava que eram algo do século XIX, um assunto
ultrapassado, mas se há apenas uma coisa no domínio da saúde capaz de
representar um risco existencial para a humanidade, é uma doença infecciosa. Em
três meses, um vírus deixou cinco mil milhões de pessoas em casa, causando uma
catástrofe sanitária e económica global. A segunda lição é que temos de sair
disto com mais igualdade e não com mais desigualdade, com esquemas mentais que
ultrapassem as fronteiras e nos façam compreender que o que acontece noutra
parte do mundo deve ser do nosso interesse”.
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“Este é o chamado da Igreja”:
Trabalhando além das fronteiras para
eliminar a malária no Sul da África
24 de abril de 2019
Isdell: Iniciativa Transfronteiriça de Combate à Malária
Este programa inspirador está tendo um impacto notável na eliminação da
malária, envolvendo igrejas e comunidades locais, incluindo dioceses nas
Províncias da África Central e Austral. Os últimos desenvolvimentos desta
iniciativa foram discutidos na sua Mesa Redonda em Livingstone, Zâmbia, em
março de 2019.
A Iniciativa além da fronteira contra a malária destaca a importante
contribuição das comunidades religiosas como atores significativos nos esforços
para eliminar a malária. O desafio é como se conectar com as populações mais
difíceis de alcançar: como fazer a última milha na prevenção, detecção e
tratamento da malária.
Nesta iniciativa, a igreja local trabalha ao lado de serviços de saúde,
pesquisadores e sociedade civil, viajando a última milha, estendendo o alcance
e o impacto dos serviços de saúde locais ainda mais para a comunidade - e com
dados para comprová-lo.
Em todo o mundo, houve um progresso significativo em direção à
eliminação da malária nos últimos 15 anos: o número de mortes por malária foi
reduzido quase pela metade desde 2004 (de mais de 790.000 em 2004 para cerca de
435.000 em 2017), e 37 países que anteriormente tinham malária são agora livre
de malária. No entanto, 3 bilhões de pessoas vivem em lugares que ainda correm
risco de malária. A iniciativa Isdell: Flowers concentra-se nas áreas de risco
além das fronteiras nacionais, onde os esforços de eliminação da malária se
beneficiam de respostas e políticas coordenadas entre os países vizinhos.
Esta iniciativa faz parceria com governos nacionais, a Igreja
Anglicana, organizações não-governamentais (ONGs) e membros da comunidade para
eliminar a malária nas fronteiras compartilhadas de Angola, Namíbia, Zâmbia e
Zimbábue. É composto por 1.700 voluntários comunitários da malária, que
fornecem educação, testes rápidos e tratamento em locais que estão fora do
alcance da maioria das ONGs e até dos serviços governamentais.
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