15 de Junho, 2020
Quatro meses após o primeiro caso de Covid-19 no Egipto, o
director-adjunto do África CDC – Centro de Doenças e Controle - traça um
"cenário misto" da evolução da pandemia no continente africano, onde,
defende, a propagação da doença ainda está controlada.
"Quando olhamos para o mês de Fevereiro e onde estamos
agora, o cenário é misto. Na maioria dos países, o gráfico [da evolução
epidémica] é muito suave e em alguns - poucos - países, o gráfico é muito
acentuado, com a transmissão a acontecer muito rapidamente", disse Ahmed
Ogwell Ouma.
O director-adjunto do Centro de Prevenção e Controlo de
Doenças da União Africana (África CDC) e especialista em saúde pública falava,
em entrevista à agência Lusa, a partir de Addis Abeba, Etiópia.
Dez países africanos representam cerca de 80% dos casos registados
no continente e mais de 70% das mortes aconteceram em apenas em cinco países:
Argélia, Egipto, Nigéria, África do Sul e Sudão.
"Mas, a tendência geral é que o crescimento da doença
ainda está sob controlo, a curva epidémica ainda é suave e o número de pessoas
em estado crítico devido à Covid-19 é relativamente baixo. Isto diz-nos que
ainda temos uma oportunidade de aplanar esta curva com a instituição, pelos
Governos, das medidas apropriadas para lidar com a pandemia", acrescentou.
África mantém-se como o segundo continente menos afectado
pela pandemia de Covid-19, a seguir à Oceânia, apesar de ter ultrapassado já os
225 mil casos e registar mais de 6.000 mortes num universo de 1,2 mil milhões
de pessoas em 54 países. Ainda assim, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
alerta para o acelerar da propagação da doença no continente, que demorou 98
dias a atingir os primeiros 100 mil casos, mas apenas 18 dias para chegar aos
200 mil.
Para o director-adjunto do África CDC, o pico da pandemia no
continente ainda não ocorreu e Ahmed Ogwell Ouma espera que seja possível ainda
evitar uma subida a pique no número de infecções pelo novo
coronavírus."Estamos a fazer tudo o que podemos para que a curva não
atinja um pico com números muito elevados. Queremos tornar a curva tão plana
quanto possível e até agora temos uma curva relativamente plana", apontou.
Para Ahmed Ogwell Ouma, os grandes desafios e preocupações
do África CDC com a evolução da pandemia centram-se na capacidade dos países,
principalmente os mais afectados, para continuarem a fazer testes à Covid-19
"ao ritmo necessário".
"Há escassez de laboratórios de diagnósticos. Os países
que têm menos acesso a testes fiáveis irão abrandar a testagem, enquanto os
outros poderão continuar a testar de forma mais eficiente e inclusiva. Por
isso, um dos grandes desafios é assegurar que os países têm um abastecimento
constante e regular de 'kits'", disse.
O África CDC lançou a Parceria Estratégica para Acelerar a
Testagem (PACT, na sigla em inglês) com o objectivo de acelerar até aos 10
milhões, nos próximos três ou quatro meses, o número de testes realizados no
continente, actualmente a rondar os quatro milhões, a grande maioria dos quais
têm sido distribuídos aos Estados-membros pela União Africana.
A organização pan-africana criou igualmente uma plataforma
electrónica para compras em bloco de testes, materiais e equipamentos
necessários à luta contra a Covid-19, tendo, segundo o África CDC, já
assegurado 15 milhões de testes para o continente.
"O ritmo de testagem tem de acelerar. Com o crescimento
da transmissão ao nível dos países, as nossas acções têm de reflectir esse
ritmo e aumentar a testagem muito rapidamente", sustentou Ahmed Ogwell
Ouma.
Além dos testes, o director-adjunto do CDC apontou também os
recursos humanos como uma das necessidades imediatas, bem como o financiamento
necessário à implementação da estratégia continental de luta contra a pandemia.
"Estimamos necessitar de 643 milhões de dólares [571
milhões de euros] nos próximos seis meses e penso que até ao momento tenhamos
garantidos cerca de 100 milhões [perto de 89 milhões de euros].
Vamos usar os fundos à medida que avançamos, mas temos uma
grande lacuna de testes e de pessoal para fazer esses testes. Estas são as
grandes falhas que temos de momento", disse.
Ahmed Ogwell Ouma considerou que os Estados-membros da União
Africana e os parceiros internacionais "têm sido muito generosos",
adiantando que "embora ainda não tenha sido conseguida a totalidade do
dinheiro, há bons progressos" nesse sentido.
http://jornaldeangola.sapo.ao/mundo/africa-vive-um-cenario-misto-mas-a-doenca-esta-controlada
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