- Revda. Dra. Elvira Moisés da Silva Cazombo -
Negar a solidariedade africana é desconhecer o coração da África humana.
A mulher africana foi ensinada nas escolas de iniciação
sobre a vida maternal e o senso de ser solidaria. Ela aprendeu que tudo o que ela
tem e ou vier a ter, deve pertencer à comunidade.
Seus seios não amamentarão
apenas os seus filhos e filhas biológicos como também para as crianças que necessitarem
do aleitamento. Os seus alimentos não deverão ser feitos numa quantidade menor.
Ao preparar os alimentos deve contar sempre com outros filhos não biológicos.
Educaram-na assim e cresceu assim portando essa filosofia de vida. Com dois
seios a mãe amamenta bebés e com uma maçã alimenta mais crianças.
Na imagem do vídeo vemos seus dentes quais faca afiada
cortando cada pedaço da maçã! Seus dedos delicados estendendo-se para fazer
chegar a maçã na mão da criança que de olhos fitos a mãe anseia por um pedaço.
Em sincronia como o olhar de coruja contempla a cada um procurando na
quantidade de filhos (as) aquela que ainda não recebeu. Com a ajuda da saliva
que os seus lábios portam distribui o pedaço da maça a todos os filhos e filhas, que
podem ser biológicos ou como parentesco alargado, o amor maternal.
Para ela não
importa se todas crianças em volta dela são filhos e filhas biológicas, antes
importa que todas devem comer um pouco de cada pedaço de maçã.
Ainda bem que Eva não comeu a fruta sozinha. A narrativa de
Genesis cap. 3.6 diz que tão logo Eva teve acesso a fruta “esta por sua vez
partilhou com seu marido que estava com ela e comeu…”.
Nosso objetivo não
consiste em apontar para os conflitos da narrativa, porém ressaltar o sentimento
de partilha. A maçã partilhada é mais gostosa.
Nas comunidades africanas o conceito de família não se
restringe apenas a círculo vertical de pai, mãe, filhos e avô, porém ultrapassa
os limites de convivência humana para abrangências que envolvem também as afinidades
das relações comunitárias.
Dentro da sua perspectiva filosófica da cultura a
vida tem sentindo se estiver atrelada na comunidade.
“Essa participação
comunitária não se restringe apenas a questões ilusórias e imaginarias e sim a
uma participação efetiva, onde toda pessoa é parte integrante da existência da
outra” (GABRIEL SITOLOANE1992-23).
Sim partilhar faz parte do sentimento
maternal. Nesta cosmovisão “existe um
sentimento forte de participação comum na vida, história comum na vida e no
destino comum. A realidade na África pode ser definida por esta afirmação”
(O’Donovam Jr.-14).
A solidariedade refaz o individuo acolhendo-o de maneira
significativa nos aspectos atinentes a vida. É o berço social dinâmico da vida,
para a configuração social do indivíduo de forma integral.
A doença de COVID
pode ser combatida com a proximidade das práticas solidárias que
devolve a normalidade da pessoa sendo o meio eficaz para as estruturações de
sentidos.
Sem isto terminaria o sentido da vida que está ligada a
Deus, à natureza e os espíritos dos antepassados. A maçã partilhada é mais
gostosa.
Negar a solidariedade africana é não conhecer o coração da mãe
africana.
Referências:
1-
SETILOANE, Gabriel. Teologia africana: uma introdução. São
Paulo: Faculdade de Teologia da Igreja. Metodista, 1992
2-
O'DONOVAN Jr, Wilbur, Cristianismo Bíblico da Perspectiva
Africana, Editora Palavra Vida Nova, 1999
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